Cosmologia Xamânica (2): A linguagem dos elementos
A interação dos quatro elementos, dentro do xamanismo, é compreendida como uma dança energética que representa o diálogo entre as camadas multidimensionais e inter-relacionais cujo, por estarem em constante relação, mostram que todos os elementos - e suas manifestações - estão interligados em harmonia.
Em um contexto individual, esta dança elemental é uma orientação simbólica sobre as camadas físicas, psicológicas, emocionais e espirituais de determinado ser, a partir de um eixo vertical (tonal) e horizontal (nagual) que orienta sobre o passado, presente e futuro. Resumidamente, ao analisar o eixo tonal de um indivíduo (norte - sul) podemos descobrir as chaves para o equilíbrio entre a sabedoria do ar e a inocência, enquanto que o eixo nagual (oeste - leste) nos mostra as diretrizes para transitar da ilusão do corpo para alcançar a iluminação do espírito.
Pela perspectiva xamã, o eixo tonal e nagual estão associados aos quatro elementos - ar, terra, água e fogo - e esses elementos são encontrados em todas as emanações terrenas 'água meu sangue, terra meu corpo, ar meu alento e fogo meu espírito'. Dessa maneira, podemos considerar que os quatro elementos presentes em nós nos trazem respostas sobre a natureza da essência do nosso Ser. Em outras palavras, a partir da interação dos elementos dentro de nós, é possível vislumbrar nossa constituição mais essencial, como nossos gostos, nossas aptidões, nossos caráteres. Para entendermos melhor essa influência, é necessário analisar as potencialidades de cada elemento individualmente:
Fogo: Este elemento carrega uma energia yang - masculina - e ao nos transmitir calor proporciona energia vital, sensação de segurança, capacidade de lidar com as dificuldades da vida, poder de nos transmutarmos, de despertarmos nosso potencial adormecido, nos expande, nos permite intuir. É, sem dúvidas, um elemento que está vinculado ao espírito e à nossa capacidade de trabalhar nossa dualidade e cauterizar nossas feridas interiores. Seu movimento carrega três pulsos de desenvolvimento: o fogo preto, o inicial, nos fala sobre a capacidade de ser livre, ou seja, a necessidade de não estar preso ao futuro, ser possessivo ou algum outro aspecto sufocante. Este é o movimento que, quando em equilíbrio, nos empodera em nossa individualidade. Já o vermelho, quando harmônico nos orienta sobre a necessidade de respeitar o outro, evitando a ação impulsiva sobre a raiva, sexualidade e desejos. E por fim, o terceiro movimento do fogo é o dourado. Essa energia nos dá força para honrarmos a nós mesmos, superando o ego e a vaidade, mas considerando o reconhecimento de nossos dons.
O fogo é o elemento que nos permite visionar, ter em mente uma visão ampla sobra nossa realidade. Dessa maneira, nos permite reconhecer nosso próprio valor para assim despertarmos nosso guerreiro espiritual, nos tornando mais presentes, mais leais, mais confiantes sobre a nossa verdade pessoal e, por consequência, despertando nossa totalidade rumo a autosustentação.
Terra: Elemento de estabilidade que relaciona-se ao corpo físico e as sensações. É uma energia elemental que nos fala sobre a necessidade de seguir a diante, firme e perseverantes, superando os medos e as adversidades, mas sempre respeitando nossos limites. Por ser um elemento de energia yin, feminino, nos conecta com a consciência da Mãe Terra, despertando nossa consciência planetária e estimulando-nos a cuidar de quem nos nutre e, inclusive, como traduz essa arquétipo da mãe, nos ensina a sermos recíprocos e a vivenciarmos o amor incondicional. Assim como a terra, pessoas que são intimamente influenciadas por esse elemento trazem como força a sustentação, introspeção e crescimento. Quando em desarmonia, esse elemento proporciona ansiedade, pessimismo, inquietude e medo de agir, por isso, é necessário se desfazer de expectativas pesadas em relação ao futuro. Os pulsos desse elemento é o verde que nos orienta sobre o alimento físico, mental e emocional, além da necessidade de transformação, pois são esses aspectos que nos permitem sermos fortes. O amarelo, traduz uma característica mais lógica, idealista, analítica e lógica - é uma terra que transmite pureza, refinação - e, por fim, o pulso da terra marrom soma características de responsabilidade, disciplina, ordem, organização, praticidade e hierarquização. Mas entre todos os aspectos da terra, vale muito ressaltar que é este o elemento que proporciona o êxito da manifestação entre o material e espiritual, pois é na terra que é permitido alcançar novos níveis de aprendizado.
Água: Este elemento carrega uma energia ying - feminina - e relaciona-se com nossas habilidades psíquicas, sonhos, inconsciente, desejos sexuais e todos os aspectos que guardamos em nossa sombra, a fim de integrá-la em nosso ser. Assim, sentimentos de culpa, mágoa, ressentimento e raiva são purificados pela água, pois ela nos ensina a nos regenerar e a sermos fluídos emocionalmente. Ou seja, a água nos limpa de pesos externos para que possamos encarar o espelho d'água que traduz nossa totalidade, pois só assim há a entrega estimulada por este elemento. A partir do sentir é que pessoas de elemento água interagem com o conhecimento, por isso algo que costuma despertar o interesse de estudo, por exemplo, também costumam despertar grande carga emocional. Este elemento possui, assim como o fogo e os demais elementos, três pulsos de desenvolvimento: a água violeta expressa aspectos de insatisfação, dor e sofrimento que fazem parte do desenvolvimento desse pulsar da água, trazendo uma egrégora de finalização. Já a água prata nos orienta sobre a compaixão, o silenciar, a intuição e sobre o tempo natural de cada coisa. E a turquesa, é a água mais protetora de todas e carrega fortemente a energia de maternidade, proteção e doação ao outro. De forma geral, este elemento é amoroso e proporciona clareza emocional, nos permitindo nos sentir preenchidos de nós mesmos, o que nos leva a vivenciarmos a vida com mais prazer e bem estar e, consequentemente, renovar nosso corpo emocional.
Ar: O ar movimenta-se livre, independente da direção e está relacionado ao corpo mental e ao conhecimento. É o elemento que nos leva à sabedoria, sagrado e conexão ancestral e nos mostra que para aprendermos é necessário calarmos, para ser possível ouvir o outro sem julgamentos. É o elemento que faz ligação com os corpos estelares, nos conectando assim com a inspiração e luz divina que, ao ser alcançada, é possível nos levar à origem de nosso espírito. Além disso, é símbolo da mudança em nossas vidas, visto que rege o mental e a consciência e, portanto, quando nos tornamos conscientes nos desprendemos de padrões limitantes.
O pulso do movimento do elemento é ar rosa - que interage com a alegria de viver, a brincadeira, ilusão e lúdico - e trabalha a abundância, o branco que tem como palavra o amor, mas também interage com o medo, fé, passado, moral, ética e dualidade entre bem e mal e, por útimo o azul que tem como orientação o conhecimento, o princípio, a ciência e a compreensão.
Todos esses elementos interagem dentro de nós e a forma como eles irão se manifestar depende da nossa data de nascimento, que vai determinar nossa roda pessoal. Essa roda, que é uma espécie de 'astrologia xamânica', nos permite compreender melhor como visionamos, sentimos, nos emocionamos e elevamos. Para entendermos melhor como isso funciona, considere a tabela abaixo:
Dessa maneira, por exemplo, uma pessoa água prata tem o elemento água como essência primordial e, dessa forma, se conecta com a compaixão, com o silenciar e a intuição do ser e a forma de se expressar no mundo tem características de amorosidade e ética, mas pode se perder pelo medo - ar branco. Já a capacidade de visionar necessita de refinamento e lógica - terra amarela -, ou seja, para alcançar a espiritualidade (a visão relaciona-se como espiritual) é necessário conhecimento e estudo e, por ultimo, o sentimento é intenso, mas quando em harmonia sabe o limite do outro ser e dessa forma o respeita, não dando vasão ao desejo descontrolado ou acessos de raiva. Com tudo isso, pode-se observar, que o xamanismo e a dança dos quatro elementos são forças que tanto guiam o externo, como o interno e, portanto, devemos nos aproximar dessas linguagens ancestrais e sagradas, pois elas traduzem a profundidade individual de cada ser humano presente na terra.